sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

O CASTELO E O ELO

Um casto castelo, paciente
Espera a presença majestosa
Envelhece imóvel, ruindo
Tijolos de pedra caindo
E nada de chegar a sua rosa
Fosse um afoito beija-flor
Voaria baixo, aqui e ali
Mas ele também não a veria
Tanto quanto a vê na poesia
Na sina de platônico colibri
Indiferente, ao ar e ao tempo
A princesa, porém, continua
A lograr o lugar de morar
Até Deus pergunta: “onde está”?
Como Eva, ela acha estar nua
E o pior é que censura o poeta
Diz “esse sonhador me idealiza”
Não entende que mal a conhece
O bicho só sabe da seda que tece
Como a brisa, da flor que alisa
As virtudes que o poeta costura
Com desbravadoras palavras
Suprem o olhar que não alcança
Com a fé e a sua esperança
Pressupondo do vulcão as lavas
Mesmo assim, ela o despreza
O sol percebe, a nuvem chora
Testemunham ser fiel a espera
Que nunca foi áspera, e era
Para ser, pelo tanto que demora

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

ESTESIA AMÁVEL

As trapalhadas embaralham
Doces palavras por um verso
E tropeçam, sentido inverso
Poemas assim se espalham

Poderia pensar que não sofro
Mas a verdade é que me ardo
E queima meus olhos pardos
Essa savana sob o calor afro

Acho até que poesia é pedaço
Que se desprende da carne
Como árvore que abre o cerne
E um fogo que derrete o aço

Experimente derramar a alma
Mesmo que não seja na rua
Exponha-na no quintal, à lua
E tente manter a sua calma

É próprio da poesia sofrer
Porque o amor é sofredor
É de rasgar o coração a dor
Mas como é bom você a ler

Sua compaixão é um alívio
É como a flor para o colibri
O fato de você ler e sorrir
Não esconde estesia amável