Sonhos que brotam de mãos mendigas
Mãos estendidas, implorando um amor
Que horror essas duas mãos amigas
Perdidas, cansadas, sem nenhum valor
Mãos que tremulam, não com o vento
Estendidas aos céus, vivendo de brisa
Tremem de frio e de alguns sentimentos
Em versos costurados, bordados pra Lua
Mãos cujos dedos batem em teclados
Empunhando picaretas em mina de ouro
Lapidando pedras, buscando o dourado
E de tanto bater vai perdendo o couro
Pobres mãos que, vazias, vagam no ar
Palmas ao vento feito hasteadas velas
Veladas quimeras num gesto de amar
Desarmadas mãos como duas janelas
De mãos dadas com o sonhado destino
Tino de agricultor que no tempo confia
Semeando com ardor em solo nordestino
Perseverando na seca que o ano desfia
Haveriam essas mãos de se recolherem
Como as que se aquecem no bolso?
Ou estão certas, sem malogros temerem
Mãos abertas a Quem deu o endosso?
De mão beijada, na contramão da pista
Essas mãos calejadas de tanto garimpo
Sem beijo de namorada, sem terra à vista
Atravessam intrépidas, sem luvas, o limbo
Dedos que dedilham cordas de violão
E vivem dançando em desenhos e versos
Hoje mendigam por coisas do coração
Cuja pobreza é conhecida pelo Universo
Porém, estas mãos cheias de alegria e fé
Estendem-se confiantes na generosidade
Do Deus que amam, que promete a mulher
Que haverá de acolhê-las em sinceridade
Mãos que hoje não têm a quem acariciar
Haverão de alisar uma tez macia e lisa
Como a superfície de água doce a nadar
Feito a face rosa de uma formosa Luiza