Escoou rala pelo ralo, aos pés do sofredor
Deslizou pelo chão a amarga mágoa
Do miolo da alma, onde a dor durava
De endurecida, derreteu-se em lágrimas
Liquidada, enfim, sumiu tipo água
No sumidouro
Mesmo que, numa mina qualquer
Tenha virado ouro
Eram molecas as moléculas de mulher
Tão femininas são as mágoas e a saudade
Que nem uma grande cidade as cabe
Sem sentir dor
Contudo, depois de se fazer de dona
Na casa que a abrigava, desavisada
Dona mágoa correu, dissolvida pela vida
E sumiu, acovardada
Depois de uma oração perdoadora
Com a intervenção da Mãe Protetora
Pela bondade do nosso Senhor
Livre do caroço que queimava
Na espinha e no pescoço
Veja que agora ouço
O canto dos passarinhos
E posso amar de novo
Com mais prudência, menos alvoroço
Por pura ancoragem da essência
No fundamento da salvação
Posso amar sem medo
E não há de ser segredo
O movimento dessa paixão
Posso amar e escrever poemas
Andar com Deus, falar de amor
Com as asas da imaginação, voar
Por sonhos e nuvens, mergulhar
Entregar-me, sair de mim, ser amador
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