terça-feira, 31 de janeiro de 2017

O QUE DIZER?

A vida míngua ao tempo e ao vento
Enfrentamos dificuldades obstantes
Mas vi na tua espera a luz constante
E, na postura, compromisso atento

Uma estrutura firme nos sentimentos
A firmeza serena de um coração fiel
Ter a tua amizade seria uma bênção
A atenção dos teus olhos seria o céu

Os dias passam como filtros de poeira
Afastam o que não é parte da essência
Muitos que se firmam nas aparências
Acabam se diluindo no fim das feiras

Mas não tu, que levantas como a Fênix
Tens uma proteção contra inveja e ódio
Dás descontos aos olhares descontentes
E o Senhor te fortalece a cada episódio

Sinal inequívoco de um coração puro
E o que mais Deus valoriza: fidelidade
Ver-te por tanto tempo, nada fica escuro
Teu olhar de lua clareia toda a saudade

O que dizer-te, ao te encontrar um dia?
Queria dizer o quanto quero ser teu amigo
Talvez, deva te mostrar minha poesia
Ou simplesmente dizer: Deus é contigo!

CIMENTO E CERTEZA


Já derramei muitos baldes
De sins e sinceras lágrimas
E baldeei litros de palavras
De transbordar o oceano

Verti versos em prantos
Corri rios de risos frouxos
E calei o calendário
Deste e do outro ano

A gente não agenda
As datas de uma alegria
O atraso não tem prazo
O prazer não vai ter dia

Apraz-me a sintonia
De escrever e servir
Anoitecer com a noite
E, com a alva, sorrir

Amanheci bem depois
Do incômodo crepúsculo
Exercitei a piedade
Mais que os músculos

Crescido de coração
E a paixão em latifúndio
Tornei-me fazendeiro
Dos sonhos mais profundos

Fundamentei a minha casa
Na verdade e na clareza
Com tijolos, não sentimentos
A liga é de cimento e certeza

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

CÉUS AZUIS

Mesmo que a cidade de São Paulo fique cinza
Ou que a estiagem seque o campo, ao meu redor
Se uma tempestade de areia esconder o firmamento
Caso sejamos surpreendidos por bombas de hidrogênio
Lembrarei dos seus azuis e tudo ficará melhor

Se um vulcão explodir pelos bueiros da avenida
E o tsunami arrastar sombreiros, carros e edifícios
Caso uma tempestade escureça toda a cidade
E eu fique cego, e os meus olhos tenham saudade
Com a lembrança dos seus azuis, será menos difícil

Vai que Trump esteja errado e o calor aumente mais
E a gente eleja um ambicioso que destrua nossa floresta
E a Terra tenha colapso… Sem pulmão para respirar
Se o sol, de coração partido, assim partir pra não voltar
Sonharei com seus azuis, a última lembrança será esta

APRENDIZ DE RAIZ

Um broto em espiral
Em volta de outra flor
A imagem produz olor
Da relação fraternal

Não no broto franzino
Mas na flor que o arrima
O poeta achou a rima
Para compor este hino

A flor já tinha aberto
Seu coração para a vida
O broto, todo fechado
Não tinha outra saída

E assim se deu a dança
Brotou a festa do infante
Ligeiros ventos uivantes
Musicaram essa criança

E aprendeu com abraços
Os movimentos felizes
Que apesar de ter raízes
Podia dar belos passos

Assim, passado o torpor
Tinha desatado esse nó
Não há presente maior
Que ter como par uma flor

VIDA DE FLOR

Rostos acanhados
Cheios de ternura
Aproximem-se, crianças!
A vida não é tão dura
Se o coração de vocês
Tiverem coragem
E, então, esperança
Mantenham a candura
Podemos crer na justiça
E no amor
Haverá sempre um amanhecer
Em que tudo pode acontecer
Em sua vida de flor

domingo, 29 de janeiro de 2017

JARDIM ESTRELADO

Crianças alegres, admiradas
Com brilho de estrela no rosto
São como orquídeas, orquestradas
Com essa alegria que dá gosto

Uma moça de face pintada
Vestida de gala, elegante e sorridente
Se ela diz "Ohhh...", espantada
Parece mais estrela do que gente

Portanto, um quadro com essas flores
De cinco pétalas, assentadas assim
Só pode ser obra de um pincel
Que pintou um céu, não um jardim

sábado, 28 de janeiro de 2017

FLORES QUE AMAM

Difere-se de todas as demais
O rosto de uma moça cheia de amor
Destaca em sua face algum rubor
Ou o amarelo da palidez sem paz

O coração em sobressalto e o suspiro
Fazem a pele lembrar flores no orvalho
Mas é transpiração, pois aquece o ovário
A súbita visão do amado é como um tiro

Se vir na multidão uma mulher que ama
Reze, pois é digna de tudo pelo que clama
Porque é pedra rara, flor de luz que ilumina

Quanto mais existirem mulheres corajosas
O mundo será melhor, um jardim de rosas
As amorosas tornam a vida cristalina



DIVINA ESSÊNCIA

A beleza da alma tem um lume
Que transcende um corpo maltratado
Ou um vestido em farrapos
Predomina sempre o seu perfume

Como uma flor exótica
Cujas pontas das pétalas
A divide em várias setas
Até parece obra de arte

Num desfile de moda, seria o assunto
Falariam da excêntrica e genial costura
Mas isso se deve à formosura
Que sustenta todo o conjunto

A beleza é um produto das virtudes
Não uma oca e artificial aparência
Mas uma expressão de boas atitudes
Com a fragrância da divina essência

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

SONETO DO SUSTO

Ela estava pálida na janela
Como um espelho olhando o sol
E eu, um pouco triste e muito só
Encostei o rosto no ouvido dela

Era um movimento repentino
Porém com sentimento bem suave
Não sei se me movi como uma ave
Ou se foi quase um bote serpentino

Aconteceu em dois segundos
Antes do tapa, o melhor dos mundos
Pelo perfume cristalizado na memória

Era uma rosa branca de um face bela
Sua fragrância revelou que era sincera
Mas o fim não é o melhor dessa história

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

MAPA DA FELICIDADE

Se é o que mais se quer
Estaria perdido nas ruas?
Se fosse um prazer físico
Seria fácil ver moças nuas?

O que se acha na esquina
Certamente, não é tesouro
O que é fácil e muito comum
É areia ou sujeira, não ouro

Muito menos, a constante alegria!
Desejam encontrar felicidade
Mas procuram em joalherias
Em roupas e carros, a raridade

Seria vulgar ou fútil, por acaso
O que vale mais que diamantes?
Então porque todos a procuram
Nas coisas que são mais distantes?

Escavam minas, furam poços
Plantam combustível no campo
E a melhor colheita que pode haver
Querem fazer sem um trampo

Posso garantir a vocês
Que a grande felicidade tem dor
Por isso, muitos desistem
Porque o amor é sofredor

Mas devemos, gratos, lembrar
A compensação do Pai provedor
Se o caminho é de dor e riscos
Precisamos do Consolador

Do Mestre que nos conduz
Nos ensinando a crer e a esperar
A sofrer em paz, sem desespero
E tudo, com alegria, suportar

Porque não há dia sem noite
Não há felicidade sem cruz
Sem liberdade, ninguém ama
E para ser livre, siga Jesus


NOBREZA

Ela tem olhar doce, de compaixão
Para os que estão aos seus pés
A elegante flor, rainha da beleza
Coroada com as honras de realeza
Não despreza nem os insetos da rés

Seu caule tem a curva do arco-íris
Suas folhas, os gestos de regente
Ela expressa o retrato da humildade
Cabisbaixa, transmite felicidade
Admirada, tudo que faz é saliente

A CASA E O MORADOR

Um vento frio e cortante que me castiga
Passa áspero pelos olhos lacrimejantes
Arde no peito e dói constante a pele seca
Mas meu coração não deixa de ver adiante

Tem calor, mesmo quando tudo congela
Este que pulsa e se entrega e se precipita
Quando todo o corpo treme e range o dente
Impávido e tranquilo, meu coração palpita

Se nasci num mundo cheio de espinhos
Antes, minh’alma navegava em mar de rosas
Intrépida, sensível e serena, nos descaminhos
Guiou-me aos cuidados de mãos zelosas

Eu sou essa brasa que queima e habita aqui
Não esta casa tão maltratada de carne dura
A alma é esse coração que nunca adormece
Mas sonha e me aquece com poética ternura


FLORES E ABELHAS

Se não achassem nas flores
O doce que vem da centelha
Como fariam mel as abelhas
Sem as parceiras de amores?

Se zanzassem as operárias
Num campo de caule e folhas
As florestas seriam bolhas
Sem as flores, deficitária

Igualmente, seria o lamento
Estio com efeito violento
Sem servas que espalhem pólen

A vida seria minguante
Com a perda das perfumantes
-- Antes que aconteça, orem!

PÉTALAS EM ESPANTO

Como pedras que caem n’água
Esparramastes vós em espanto
Espalhando-vos como lágrimas
Por alegria, em sorridente pranto

Pétalas que parecem respingo
De um propagar de vivas cores
Quem sois vós, artistas flores
Que pintam os dias de domingo?

Quando juntas, recordais chuva
Batendo à tona de água turva
Espalhando estrelas pelo chão

Evocais vós o desenho dos astros
Como fogos de artifício nos autos
Sois flores, mas pareceis explosão

ANATOMIA DO CONFORTO

O conforto não é luxo
Puxo o tema da almofada
E o transporto para o lago
No sonho de uma madrugada
Em que o conforto foi afago

O conforto tem seus ícones
Mil imagens que o transmitem
Hospitalidade, mãos zelosas
Olhar doce, pétalas de rosas
Ombros que não se irritem

Tem também versos e prosas
E muitos verbos, feito abraçar
Letras que vivem para definir
Habitando sílabas de exprimir
O apoio emocional de um pesar

Mas não tem nada mais exato
Que, só de olhar, já confortou
Como a imagem de seios fartos
Colo macio e os quadris largos
De uma mãe que amamentou

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

FLORES NO FRIO

Depois de uma tempestade de neve
Lá pelas bandas do extremo norte
Numa lasca de terra do Alaska
Botões de rosas, quase à morte
Fazem uma expressão pela sorte
Em busca de superar a nevasca

Mesmo no frio, são amorosas
Não seria diferente, tratando-se de rosas
Veja que os lábios oferecem beijos
Com o claro intuito de descongelar
Os corações que não sabem amar
Que confundem serviço com desejos

Não vê que elas se entregam inteiras
Com gestos de ofertar-se em beleza
De forma que, quanto mais precisam
É quando mais se doam, sem tristeza
Sendo assim o retrato da certeza
Do calor que os amores fiéis realizam?