quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

FAZER SILÊNCIO TAMBÉM É AMAR

Se na minha opinião escrever é amar
É porque, quando acerto uma estrofe
É para mim como se abrisse um cofre
De onde retiro peças de ouro para doar

Mas se a doação não lhe falar de amor
Peço que entenda que também é doer
Pois é achar dores incolores e as remoer
E dessas dores na moenda, extrair cor

Das gamas dos tais bagos esmagados
Tira-se o verde da verdade, o azul do som
Vermelho do sangue, de um sangue bom
E o amarelo do elo e dos anéis alados

O colorado ou o eldorado, o paraíso...
De que mirante podemos ver? Da poesia!
Nas distrações de uma janela, na gelosia
Em que o olho voa do rosto com um sorriso

Pensando nisso, acho que fiz um poema
Com o tema que mais me aflige, por agora
Está na hora de ter certeza de um dilema
Se sou poeta ou só um amador na aurora

Pensando bem, não tenho como defender
Que os versos sejam melhores do que nada
Pois o silêncio faz o bem, sem se contorcer
E o bem maior é o sossego, a paz de cada

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

LANÇA POEMAS

Chamas que me chamam
Da luz inquieta de uma flor
Prometem ao frio um calor
Falam de amor e me amam

Chamas desses seres eretos
Etéreo profícuo, vide o néctar
Digna beleza com cheiro de ética
Nutrem pássaros e insetos

Quanta integridade floresce
Numa flor que nunca entristece
Um pé de poesia e esperança

Porque ama, inspira poemas
Pelo ar em aroma e doces temas
Pelo lume e o calor que nos lança

POR DENTRO

Eu te conheço por dentro
Antes mesmo de te ver
Por sentir-te, alma adentro
No centro luminoso do ser

Translúcida, cabeça aos pés
Teu cerne verte em moradia
Via uma luz, o rosto não via
E não sei, portanto. quem és

Onde o tempo já passou
No eixo da plena existência
A tua essência é puro amor
Ainda que não haja ciência

Sim, eu te admiro há séculos
Mas te amo assim há milênios
Incêndios de paixão sem elos
Paralelos de tímidos silêncios

Pedi a Deus enfim o encontro
Uma luz que guie o sentimento
Começo de vida, fim do pranto
A confirmação do firmamento

Presença no bojo da ausência
“Sim” no “não”, mimo no imo
É com tua verdade que eu rimo
E respiro o que diz a essência

Teu coração exposto é obra prima
Uma flor dentro da flor, ar do templo
Mesmo sem ver, eu te contemplo
No ensejo de te beijar com rimas

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

NA ALMA DA POESIA

O que te deixa majestosa
Com raios de rainha na tez
Não é só o teu jeito de rosa
O ar sereno, a face vistosa
Mas a tua fé, tua honradez

Teu nome tem um perfume
Que invade varandas e salas
Tu calas e o aroma assume
Todo o recinto feito um lume
Clarificando olhos e almas

Se tu passaste, o tempo não
O sol parou, pairou o agora
Como se a tarde, luz do astro
Aos teus pés, atrás do rastro
Nem avistasse, pois foste embora

Tu foste, mas não te esqueço
Aqueço-te, mesmo escondida
No imo, no meio do âmago
Onde mais te amo e te amo
Em poesia que nunca é lida

domingo, 18 de fevereiro de 2018

FLORES LIVRES

Estaríeis livres, ajardinadas com plenas raízes
Fosse eu um príncipe de cavalo branco e espada
Salvaria-vos dessa torre de vidro fria e molhada
O jarro em que jorrais o aroma, como se felizes

Não sou um herói, mas um pobre poeta frágil
Pois que, sem poder vos livrar, vejo a vossa dor
Se, em vez de palavras, eu tivesse um golpe ágil
Com armas em punho, e ainda assim, com amor

Seria como o rei Davi, sofredor, mas com sucesso
Selaria vosso destino de ornamento em liberdade
E vos devolveria ao jardim, que é vossa felicidade
A cidade de fauna, flora, paz e alegria em excesso

Peço, em poesia, a vossa compreensão sobre isso
Vou cantar com argumentos afiados vossa tristeza
Até que todos vejam o quão cruel é cortar sorrisos
Enlatar cores, prender flores, tomar posse da beleza

Ao passo que cantarei ao povo o vosso tormento
Suplicarei a Deus pela liberdade e integridade floral
Com firme convicção de que seria a batalha final
Se as flores forem livres, os pobres, sem sofrimento

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

MANSA TEZ

Quando a luz se deita
Nas pétalas da maciez
É com moleza que reflete
Os tons suaves da tez

A flor brilha pela beleza
Mas é sensível em textura
A luz não bate, mas apura
Toda mansa de destreza

Até os raios de sol a pino
Desaceleram sobre ela
Devagar em plena queda
Controlando um jeito fino

A luz se deita e se eleva
Como se tirasse um cochilo
E até precisasse de auxílio
Pelo tempo que ela leva

Por isso que o meu olhar
Ganha serenidade no gosto
Quando mira seu lindo rosto
Não tenho como não gostar

Parecem lençóis o lenço
Com que cobre seu sorriso
Quando lê tudo o que penso
Repousando os olhos nisso

SUA BELEZA NATURAL

No esplendor silencioso da natureza
Há mais carnaval que na escola campeã
Mais samba brilha em seus penduricalhos
Que raiam luzes de alegria a toda manhã

Não é de um dia sua fantasia constante
Encantadoras passistas do enredo feliz
São como os pincéis em obra dançante
Traçam arte de suas partes, faz giz da raiz

Sua beleza se ramifica e me comove
Enquanto o dia desfila em seu entorno
Ao infortúnio resiste o lindo adorno

Em outra língua, admirado, diria "my love"
Contemplar me satisfaz e até me move
A suportar te amar assim, sem ter retorno