Num terreno desconhecido
Diante de um solo duvidoso
Um plano pastoso
Areia movediça
Confesso que hesito
Mas quando se trata de poesia
Dou um passo cego
Eu me atiro. Precipito
A palavra puxa o verso
E eu sigo
No meio da escrita, não sei
Se sou eu que abro o verbo
Ou se é ele que me conjuga
Um enorme espiral me suga
Entre os versos, não enxergo
Vou me despindo por sílabas
Pedaço por pedaço, descalço
Nem pele, nem carne. Aonde?
Nenhum corpo me esconde
Nenhum corpo me esconde
Muito menos relógio no braço
Embora eu ame escrever
Não deixa de ser um trabalho
O suor escorre, corre uma dor
Uma adrenalina de estivador
Carrego peso e evito atalho
Faço poesia como quem luta
Ainda não sei que proveito tem
Despejar termos em termos
Tatear o desconhecido, no ermo
E soar como um apito de trem