quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

PARA DIZER SEU NOME

Minha voz tropeça no timbre
Sua frio, quando soa seu nome
Se o pronuncio, minha cor some
Como se falar fosse um crime


Queria que soasse como brisa
Jamais precipitasse, feito tosse
Fosse como canta a Luiza Possi
Suave como a nave que desliza


Ao proferir, porém, engulo seco
O ar ao pé das letras, seus rastros
Pegadas que pisam e fecham o beco
Fazem eco que me jogam astros


Não falo. Sinceramente, engasgo
Como um rasgo num balão, no alto
Como turbina furada de um avião a jato
No ato de dizer, eu me pego gago


Queria falar como canta João Gilberto
Compassado e até com certa bossa
No passado, Nelson Gonçalvez, na fossa
Sem olhar, dizendo "Olha" o Roberto


Como Gal dizia o seu próprio nome
Em som de guitarra, queria dizer o seu
Mas a minha voz não toca como Alceu
Cadê a língua? A primeira sílaba come


Mesmo que fizesse um coco em desafio
Confundisse sílabas como Eugênio Avelino
Dizendo de trás pra frente, soaria vazio
Não seria seu nome que é muito lindo


Ah, se o dissesse como eu queria
Se não pendesse o peso do quanto penso
Sinceramente, seria um flutuar de lenço
Recitar seu completo nome em poesia

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