domingo, 27 de agosto de 2017

ABRA A PORTA

Cantei
Para que você me ouvisse
E a olhar se permitisse
Com outros olhos para mim

Cantei
Para que você me notasse
E, por desarme, amasse
Cada flor do meu jardim

Abra a porta
Ao violão que não suporta
A violação da indiferença
Por favor, dê a sua licença
De enfim abrir sua porta
Para ouvir esta canção
Pra você que foi composta

Não importa
Como você se comporta
Se parece não se importar
Com a minha poesia torta
O importante é ser feliz
A partir deste instante
Eu também sempre quis

sábado, 26 de agosto de 2017

ETERNO AMOR

O tempo filtra o amor
Que resiste ao vento
Ao frio, ao fogo, à dor
Cada vez mais puro
O amor é luz no escuro
Enternece o pensamento

Não há enxurrada forte
Nem ladrão que o leve
Nem mesmo a morte
Ou qualquer falta de sorte
Quem tem amor sofre
Mas não o perde

Entre perdas e danos
Vão-se todos os anos
Fica o amor que aquece
Vai tudo o que falamos
Muda o que pensamos
E o sorriso permanece



quinta-feira, 24 de agosto de 2017

SUPREMACIA DA TERNURA

Tanta delicadeza surge corajosa
Límpida, pacífica, terna, serena
O que seria de uma flor, uma rosa
Ou mesmo da delicadeza morena
Diante da hostilidade danosa,
Sem o afago de uma nova cena?

Leve, humilde, macia e formosa
Surge o que não é de cinema
O simples que aqui e ali pipoca
Coça, arrasa, apaga, destroça
Toda insensatez e seus lemas
Anátemas da boa terra nossa

Uma florzinha na cerca, lá na roça
Um filhote de baleia salvo na praia
Música que emociona quando toca
Mãe com a criança na barra da saia
Uma arraia que nada como se baila
Uma mala na estação ferroviária

Plena lucidez tenaz que inspira paz
Plácida luz sobre a ludicidade lírica
Da empírica construção desta poética
Amadora decoração, de rústica ótica
Com a temática do amor, sem lógica
Na dialética da observação crítica

O simples e o complexo fazem sexo
No anexo de um texto quase risível
Esta poesia só tem sentido em nível
De reflexo, não é pra deixar perplexo
Nem após este vigésimo nono verso
Em que volto a falar de flores: lírios

Liras e harpas exalam doces músicas
Mas não soam perfume como os lírios
Suaves como aves, mesmo os híbridos
São tão delicados e cabem como luvas
No canteiro, na varanda e na janela
Ao redor dos sonhos que brotam dela

terça-feira, 22 de agosto de 2017

PERDÃO DE FLOR

Como crianças ante a ribalta
Flores são faces com espanto
Holofotes florais que exclamam!
Em perfume, todas elas cantam
E geram sorrisos e prantos

Ninguém é indiferente às flores
Carregam em si o dom da arte
Presentes preferidos dos amantes
Culpados as têm como ajudantes
Intercedem, manipuladores à parte

São generosas, portanto, lindas
Mesmo as rosas, que têm espinhos
Clareiam a doçura de quem as vê
São poemas que sensibilizam você
A transformar inércia em carinhos

As flores têm o poder do perdão
Mesmo arrancadas, oferecem olor
Sofrendo, sustentam alegria natural
Mas se portam solenes em funeral
E não são sinais da enorme dor

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

CARTAS DE AMOR

A rosa parece bondade
Lealdade e ternura em flor
À flor da pétala, a beldade
Flui cheirosa do interior

A rosa parece uma carta
Escrita por Deus na flor
E a mensageira nada descarta
Assim, se faz carta de amor

Os versos que são elas
Como janelas para o mar
Cuja a poesia é a maresia
É da floresia também rimar

Quem não se deleita
Com a beleza dos poemas
Rasga cartas que recebe
Não lê, despreza o tema

O olhar que se nutre de flor
Néctar para a abelha, a visão
Poliniza e compartilha o mel
Vive no céu e tem paixão

sábado, 12 de agosto de 2017

AGIR COM JUSTIÇA

Justiça é defender necessitados
Dando a todos condição melhor
Doando nosso sangue e o suor
Partilhando bens, recursos enfim
Há fragilizados que precisam
De alguém, de você e de mim

Convém a todos agir com justiça
Não acumular mais do que precisa
Não ostentar, não nutrir demônios
A inveja é espírito que não sacia
Alimenta a revolta, cruel energia
Da sociedade é um mau hormônio

Evitemos, assim, o agir sorrateiro
Instigar o ódio, manipular a massa
Desunir o povo com intriga e pirraça
Lucrar com a boa fé do brasileiro
Rebeldia instigada vira braseiro
E algo assim nunca fica de graça

O confronto sempre acirra o egoísmo
Mas não há resistência para o amor
A política de endurecer os corações
Só semeia revoltas e nutre motins
Fumaça que só favorece aos ladrões
Não serve pra você nem pra mim

Sim, eu sei que precisa de muita fé
Doar terras a um severo latifundiário
Como uma espécie de despertador
Para que ele enxergue seu absurdo
De se fazer de cego e até de surdo
Requer contar com o poder do Senhor

Mas imagino o olhar do nosso Deus
Vendo sitiantes se unindo e rateando
Pequeno sítio, com sacrifício comprando
E o doando ao tal do opressor fazendeiro
O quanto isso mexeria com aquele homem
Os olhos comovidos de Deus nos consomem

Além disso, estaremos seguindo Jesus Cristo
Que nos disse o que fazer, ante o explorador
Àquele que leva a túnica, dá também a capa
Essa política, sim, será apoiada pelo Papa
A grilagem não subsiste perante um doador
Até um grileiro pode ser impactado no amor

POLÍTICA AMADA

Não é direito
Essa busca
Bruta e brusca
Por direitos
Já erramos tanto
Isso não é santo
Agir desse jeito

Luto por política amada
Para não ficar de luto
Na defensiva, armado
Montando ogiva
Rangendo gengiva
Contra quem eu amo
Antes, por paz eu clamo

Antes que frutifique
Uma justa cidade
Nossa humildade
Pode ser mudada
Enganada pela inveja
E ganhar outro destino
O filho mau do desatino
E ver o viés da ganância
O fim do amor
E da infância

A melhor cidade
É a paz na unidade
Que só se alcança
Com fé e esperança
Está escrito
E não é restrito
Melhor é dar
Do que receber
Não são os direitos a ter
Mas os deveres, no amor
Doar-se, seja a quem for

Se oramos por direitos
Perdemos o ouvir de Deus
Foi assim que Jesus falou
Da oração dos fariseus
Como é que queremos
Que Deus nos ajude
Agindo mal, reclamando direitos
Com a faca nos dentes
Batendo no peito?

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

VIDA SEM FERIDA

Um coração de aço
Quando se derrete
No acalorado abraço
Brasa que incandesce
Junta cada pedaço
Na poesia que tece

Mas tem o adverso
Quando há cansaço
E não vinga um verso
O coração padece
No errado laço
Era alarme falso

Mas esquece…

Esquece
O que passou
O passo do malogro
No lodo do engodo
Eu fui bêbado
Ou fui bobo
Esquece o avesso
Inteiramente o meio
Esquece o tropeço
No veio do fim

Esquece
O que passou
E o que não fez por mim
Esquece
O que eu fiz, enfim

O tempo passa
E toma posse da vida
Há que ter uma saída
No seio desse espiral
No olho do furacão
De uma ressentida vida

Sem temer o amor
Mister suportar a dor
Para não nutrir ferida


terça-feira, 8 de agosto de 2017

RABUGICE POR EUNICE

Não se descuide
Não me rotule
Não me torture
Com esse gesso
O que é “esso”?

Esse seu gesto
Me faz de resto
Dentro de um cesto

Não gesticule
Meu movimento
Nem articule
Meu pensamento
Não me cutuque
Não sou de ferro
Nem de cimento

Não sou garrafa que se rotule
Nem sardinha de se enlatar
Nem meu joelho teve aparelho
Ou algum trevo de se entrevar

Não sou roqueiro
Nem estrangeiro
Motor de arranque
Merece zelo
Nunca fui pink
E nem fui pank
Sou brasileiro

Não ache que é axé
Isso se chama chamariz
Meu coração véi de paz
Já nem se importa se é feliz

Não me mate de rir
Nem espalhe por aí
Que tenho samba no pé

Pode até ser rabugice
Uma burrice qualquer
Ai, que saudade de Eunice
Aquilo sim, é que era a mulher

domingo, 6 de agosto de 2017

NAQUELE INSTANTE

Essa suave alegria de ave
A dança sem uma palavra
Como navega uma nave
Ou cai a neve em Niágara

Como o oceano sonhado
Pelo rio, antes das cataratas
E, depois da queda d’água
O abraço com as salgadas

Minutos antes da ventania
Cantarola um passarinho
Logo depois da tempestade
O bom suspiro e um carinho

O olhar, quando antecede
O beijo que não foi negado
E o leve contato dos lábios
Quando não são apressados

A brisa que acaricia o rosto
A ver navios, na despedida
O semblante de quem sente
O trajeto da lágrima caída