segunda-feira, 9 de maio de 2016

O DOM DE VER

Teu olhar quente
Sobre o gelo
Vê a água latente
Fia no fio, no novelo

Vê a seda, cedo
Antes do bicho fiar
Na lagarta ou crisálida
Uma borboleta voar

No nó cego, o laço
Na galinha, o ovo
E só enxerga abraço
Nos braços do povo

Só percebe ninho
No covil dos ratos
Teu olhar não vê
Cobras e lagartos

Teu olhar fervendo
Só enxerga a sorte
No amor, vai vendo
Nunca nota a morte

Teu olhar em chamas
Queima folha de jornal
Mas não vê fofocas
Quando focas na Social

Se vivo com mil calafrios
É porque nunca me vês
Matarias o meu frio
Com um soslaio de vez

Teu olhar que aquece
Esquece de me aquecer
Nem vê que me arrefece
Tanta coisa boa a ver...

Por só notares o que é bom
Não me percebes, enfim
Talvez vejas meu Rayban
Mas não o vês em mim

Nenhum comentário:

Postar um comentário