Uma madeira envernizada
Com camada de esmalte branco
Elegantemente, perolizada
Com que se fez um banco
Foi parar na cozinha moderna
Servindo a uma mesa de plástico
Combinava com ele a geladeira
Tinha uma vida igual a elástico
De cá pra lá, cobrindo buracos
Trabalhava o banco pesado
Com eletrodomésticos rumorosos
Era um assento de apressado
Até que um carpinteiro o poliu
E viu que por trás daquele lustre
Havia uma madeira maciça
De uma cor original mais rude
Que bom gosto tem o artista
Esse carpinteiro sabe de tudo
Restaurou inteiro o banquinho
E o fez mais puro, sem escudo
Descobrindo a madeira escura
De que foi feito o moderno assento
Para ele só haveria uma utilidade
Para ele só haveria uma utilidade
Pois ficou singelo, porém, atento
Antes versátil, rodava a casa
Agora só serve à penteadeira
Muitos não gostaram do resultado
Muitos não gostaram do resultado
Mas ele se viu na vida verdadeira
Sobre ele se senta uma mulher
Que suave sorri, se penteando
O seu perfume é claro e sublime
E tem peso de pássaro voando
E tem peso de pássaro voando
A penteadeira também é linda
Pois reflete em espelho sua dona
O banco a vê igualmente divina
Como Leonardo pintou a Madona
O fim de sua história não existe
Pois, antes era coberto de verniz
E agora se viu puro e indelével
E a verdade o fez livre e feliz
O banquinho, antes branquinho
Agora é rústico, escuro, ofuscado
Mas nada supera essa felicidade
De se sentir tão bem acompanhado
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