terça-feira, 5 de junho de 2018

MÃO DE OBRA

Se o poeta é como a abelha
Que usa o néctar de sua musa
Como inspiração, sua centelha
E faz da matéria prima a guça

Abusa da essência no doce
Na colmeia de melados versos
Alimenta-os do sonho que fosse
Seu pão em tempos pregressos

E, antes que lhe cobrem a paga
O poeta, como a abelha, reclama
Que não se cobra a quem se ama
A relação de ambos é uma água

Apesar disso, dá duro a operária
Feito os poetas, poliniza flores
Pois que amolecem os amores
O mel e os verbos na culinária

Ambos, produtos feitos à mão
São de mão de obra generosa
Só o prazer de beijar uma rosa
É salário para o pobre zangão

E o poeta que nem asas possui
Em sua solitude de apaixonado
Conforma-se com o beijo não dado
Da musa que sorri e diz "já fui"

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