quarta-feira, 11 de abril de 2018

CARÍCIAS AO VENTO

Essas velas abertas ao vento
De um ancorado veleiro a velar
Sem o intento de deslizamento
Só vertendo o alento a beijar

Em aroma transforma o ar
Dando outro sentido à brisa
Visa um filtro de aragem arar
Mas apalpa com graça e alisa

Enverniza as crespas aragens
Com alquimia de mãos macias
De acalmar cavalos selvagens
E os lençóis, no raiar do dia

Delicadas, tocam os ares ledos
Feito flores, entornando rastros
Como astros num balé de dedos
Dois pra lá e, pra cá, uns quatro

Pouco vejo, enquanto contemplo
Concentrado, com apurado olfato
Em transe, tipo monge no templo
Perco a conta dos dedos, no ato

Se pudesse dizer como eu sei
Da alma que a mão disse a mim
Não diria, mas o amor confessei
Ao discernir, eu virei um jardim

Com as pernas bambas, receio
Tropeçar e hesitar ante o amor
Pois não pode haver outro meio
De ser feliz, sem achar a tal flor

Alma que não poderia estar ali
Mão que não pertence aos perfis
Tempero que me confunde aqui
Uma legenda que não condiz

Tudo parece nuvens e cortinas
Mas há uma flor em contraluz
Um vulto e sensação cristalina
E o aroma de amor que seduz

Só Deus poderia me ajudar a ver
Sorrir ante o emaranhado, alerta
Manter-me inteiro ao me derreter
Frente a uma forte luz encoberta

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