quinta-feira, 2 de junho de 2016

APAGAR

Quando a poesia entala
Fica presa na garganta
Respira fundo, vai fundo
Escrever não adianta

Não tente descrever
Muito menos disfarçar
Poesia não é teatro
Antes, tudo confessar

Mas ao narrar o engasgo
A tradução gera ruído
O gemido da alma soa
Ouvi-se o grito do sofrido

Porém, cautela não convém
Um grito preso vira caroço
O da alma não se vê
Surge outro dentro do osso

Não tem por onde fugir
São os ossos do ofício
Poeta não tem segredo
Transparência é seu vício

Que perigo provocar
Uma mágoa em alguém
Se ela não tem amor
A mágoa vira desdém

O desdém vira doença
A sensibilidade se vai
A mágoa é uma nódoa
No sujeito que decai

A generosidade, porém
Do poeta em se entregar
Tira da alma as manchas
Tudo transborda em amar

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