Não vivo no campo, pouco vejo a Lua
Contemplo a cidade, garimpando a vida
Com muitos afluentes de nome de rua
Desce um rio urbano chamado avenida
Nas margens, vitrines, em vez de árvores
Tem aves que fazem ninho no concreto
Convivendo com movimentos não suaves
Os pombos são adaptados, mas indiscretos
Denunciam em plena luz do dia a rigidez
Dos prédios, dos postes e dos semáforos
E os desaforados sinais da mesquinhez
Que larga crianças ao tráfico, no tráfego
Duro chão impermeável e infértil do asfalto
Tudo que se planta dá, inclusive mendigos
Frutos da soberba, onde sobra salto alto
Nariz empinado e os muitos atos indignos
Paira um ar rarefeito, feito de óleo diesel
Queima-se dinheiro; mas são pessoas
Combustível de vil propulsor narcíseo
No ralo de subempregos, a vida escoa
Quando girava isto na peneira da poesia
Ardia no peito uma chama de esperança
Era um chamado de Deus para a rebeldia
Lutar contra esse drama feito criança
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